Em entrevista a Dayvis Souza (à esquerda), o cantor e compositor repentista Geraldo Mousinho (à direita) fala sobre sua carreira artística como músico ao lado do antigo parceiro Cachimbinho; detalhes de sua vida pessoal e artística; a simplicidade da música popular nordestina pelo Brasil numa mistura entre vozes e pandeiros que improvisavam à base de muita criatividade e irreverência. Vale, aqui, ressaltar que Geraldo Mousinho é artista paraíbano, obteve reconhecimento nacional na época em que apareceu no cenário da música como artista, recentemente teve uma música de sua autoria gravada por Zeca Baleiro em DVD, e outra composição própria contemplada em 3º lugar no Forró Fest 2010.
Qual sua naturalidade?
Eu sou natural de Mamanguape, nasci em uma cidade chamada Jitirana.
Teve orientação ou apoio familiar para seguir carreira de músico?
Não. Eu começei a cantar e tocar com 15 anos, sozinho e depois com vários amigos que conheci nas apresentações.
Em que ano começou sua carreira profissionalmente?
Na década de 70.
Iniciou sua carreira profissional como repentista solo ou já fazendo dupla com Cachimbinho?
Iniciei minha carreira cantando com outros cantadores de embolada que na época usavam o ganzá ao invés do pandeiro; eu cantava nas fazendas; um tempo em Campina Grande, uns 5 anos em Caruaru com os cantadores da época de lá como: Golado, Azulão, entre outros mais de 30 amigos que conheci, hoje, quase todos já se foram. Quando vim a conhecer Cachimbinho já havia cantado com muitos outros cantadores e em muitos lugares.
Onde conheceu Cachimbinho?
Eu conheci Cachimbinho nessas feiras entre Mamanguape e Rio Tinto onde ele também se apresentava até com outro cantador. Um dia eu vinha a pé de Rio Tinto para Mamanguape e vi ele passando de caminhão e pensei “que cantador horrível, vindo de caminhão”, mas fui ver sua apresentação na feira e quando foi depois eu mesmo tive a felicidade de estar num caminhão (risos). Depois de algumas semanas começamos uma amizade e estávamos viajando juntos para se apresentar. Muitas das apresentações a gente ia de caminhão porque era o transporte da gente. Quem tinha um jipe ou uma rural era rico. Foi o parceiro que mais me aguentou, foi no tapa, em discussões, nas viagens, ficávamos uns 3 ou 4 dias sem se falar, mas a gente sempre se entendia, acabava tudo bem e começávamos nossa luta de novo; nisso passamos 35 anos juntos.
Em que época sua carreira fez mais sucesso?
Na época do primeiro disco gravado. Isso tem uns 35 anos.
Por quais estados mais se apresentou?
Por todos os Estados, principalmente o Norte e Nordeste, conheço todas as cidades da Paraíba e do Rio Grande do Norte e grande parte de Pernambuco.
Quantas composições suas foram gravadas para a dupla?
Em todos os nossos LP’s as músicas foram de nossa autoria.
Outros artistas gravaram suas composições?
Caju e Castanha regravaram uma música nossa e agora tem uma outra banda regravando. Onde tocar vem os direitos autorais do cantor (risos). Amazan também regravou. Foi sucesso de Amazan e tá registrado no nome da gente. Essas músicas que foram sucesso comigo e Cachimbinho, há 30 anos atrás, hoje o povo não lembra, o povo esquece, mas fez muito sucesso. Outras bandas já regravaram, de vez em quando vem uma boladinha lá de Recife, né (risos).
Quantos discos foram gravados durante sua carreira?
15 LP’s. Mas só cheguei a gravar depois do meu casamento. Já tinha ido a São Paulo e não consegui gravar nada; fizemos muitos forrós por lá, mas com dois meses que havíamos chegado de volta, apareceu, em Recife, um rapaz estudante que era nosso fã, gostava e conhecia o nosso trabalho e nos ajudou a gravar pela Continental onde ainda gravamos 4 LP’s.
Havia assédio de fãs para o estilo coco e embolada?
Aconteceu época em que precisávamos de segurança (risos). As moças atrás da corda que dividia o palco querendo passar. Outras vezes nos apresentávamos junto com outras bandas e o povo gostava de ouvir a gente se apresentando, mesmo com toda aquela banda montada, mas parava pra ver a gente, imagina, o cara deixar de dançar pra ver dois caras com dois pandeiros, mas aplaudia de pé, não brincadeira não. A gente foi convidado pra tocar em Fortaleza no clube de Romeu Martins, um dos maiores clubes de lá. Esse dono disse ao nosso empresário que Valdique Soriano tinha saído debaixo de pedras por causa de dois cabras cantando coco (risos). Nosso empresário disse que se alguém vaiasse a dupla não precisava pagar o cachê, então Romeu mandou trazer e o povo aplaudiu.
Seu casamento foi durante o sucesso ou antes?
Quando eu me casei não tinha nem gravado ainda. Meu filho Ginaldo Mousinho já tinha dois anos.
Participou de shows junto com artistas já consagrados?
Fizemos apresentações no programa de Jackson do padeiro que tinha um programa de madrugada na rádio Globo; um programa de televisão, em São Paulo, com Ailton Rodrigues: Almoço com as estrelas; fizemos também com Rolando Boldrim, na época. Fora outros artistas que se apresentavam junto com a gente pelo Brasil. Cachimbinho tem muitos arquivos guardados das reportagens, mas eu sempre fui descuidado com isso.
Foi possível ganhar dinheiro em alguma época?
Ah, deu pra ganhar dinheiro sim, mas o problema é que eu tinha dois sacos, um cheio e outro furado, e acabava sempre guardando o dinheiro no furado. Sempre gastei muito. Eu era farrista, passava três, quatro dias na praia.
Como se mantinha a dupla viajando para fazer shows?
Com nosso dinheiro viajávamos e onde a gente chegava não faltava show.
Era a dupla que cuidava dos acertos para shows ou havia algum empresário?
Tinha empresário, tinha contrato, mas às vezes a gente deixava o empresário pra lá, arrumava show mesmo. Um dia o empresário também levou nosso dinheiro de um show e largamos ele.
Durante quantos anos a dupla se apresentou pelo Brasil?
A dupla passou uns 20 anos no auge. Mas não é aquele auge de Roberto Carlos e tal, mas deu pra sustentar minha família, meus filhos.
Além do pandeiro, você toca outro instrumento?
Não. Meu instrumento é só o pandeiro.
Seu último cd gravado em um estúdio caseiro na sua cidade, “Cocos e paródias”, foi seu último registro gravado, com composições próprias e a participação de seu filho, Ginaldo Mousinho, falando sobre a politicagem entre outras resenhas. Voce acha que a chacota com os políticos ainda é o melhor tema para tirar risos do povo que se agrada do estilo?
É, porque o tema não acaba, político não acaba. O pessoal gosta de ter ver falando mal dos outros. Sempre entra um e sai o outro, etc, sempre tem como falar deles. Mas tem eleitor que também merece virar tema porque contribui com a corrupção.
Você tem apoiado outros repentistas da região?
Apoio quando o cara é bom, quando é poeta mesmo, ou é ou não é. Quando querem chegar perto de mim só pra fazer média eu deixo de lado, mas também não mando desistir, e quando querem aprender eu apóio.
Seu filho, Ginaldo Mousinho também é poeta cordelista e compositor do mesmo estilo que você. Outro filho seu, Genílson pode ingressar junto com ele nessa carreira para termos uma nova dupla de repentistas na família?
Acho que Genílson pode seguir pro forró, o Ginaldo é um grande escritor de cordel e compositor, ele só não é de cantar.
Se isso se concretizar, você pretende compor para seu filho também?
Ele não precisa porque compõe mais do que eu, o Ginaldo pra compor música é bom demais.
Como você vê o espaço para o músico repentista hoje em dia?
Eu acho que o cantador de viola saiu do sítio pra cidade; antes era o contrário. Quando a gente se apresentava no interior o povo se juntava pra ver, o cantador de viola no sítio era uma festa, hoje o povo não liga, acabou o Boi de Reis que era uma festa, a brincadeira de babau, aqueles bonecos, as crianças brincavam, era uma festa; até as festas religiosas o povo não liga como antes, o Terço e tal.
Você se converteu há um ano ao evangelho. Está participando musicalmente de alguma forma no seu grupo religioso?
Preparei um trabalho evangélico junto com minha esposa, Maria Gorete, a mulher mais linda do mundo, pra ela cantar, talvez junto com os filhos e filhas e quero gravar aqui mesmo em Jacaraú onde gravei meu último disco, Cocos e Paródias.
O que você diz aos jovens de hoje que querem seguir uma carreira musical?
Tem muito jovem que quer seguir algo que não conhece. Hoje em dia é muito difícil fazer nome no campo da música. É difícil fazer sucesso, quando se consegue, o mais difícil é sustentá-lo. Toca alguns poucos meses e depois desaparece. Tem muitas músicas com letras que não dizem nada, sem graça, sem sentido.
A Casa da Cultura, atualmente, tem remasterizado seus discos, numa forma de manter viva a cultura não só regional, mas do Brasil. Você também foi agraciado com uma medalha. Conte como foi esse prêmio e fale sobre a iniciativa da Casa da Cultura.
Fui agraciado pelo Estado com dois salários mínimos, prêmio concedido pela Lei Canhoto das Artes, a apenas 30 artistas por vez. A medalha Augusto dos Anjos recebi da Assembléia Legislativa por 50 anos de trabalho prestado como artista. Ainda tenho um título de Cidadão Pessoense pela Câmara Municipal para receber no ano que vem, mas confesso que se disserem que vão fazer uma estátua pra mim eu gostaria mesmo é de uma casa lá em João Pessoa , eu tô doido por uma casa lá (risos). A iniciativa da Casa de Cultura é excelente e agradeço a todos pelo trabalho feito. Os outros LP’s ainda vão ser remasterizados.
O que Geraldo Mousinho tem feito hoje em dia para a cultura?
Atualmente escrevo literatura de cordel, críticas políticas humoradas e estou junto com meu filho Ginaldo num programa aqui na Rádio, chamado Cultura Nordestina, recitando cordéis e tocando música repentista, de viola.