I
Venho prestar homenagem
Ao grande Zé de Alencar
Que com seu vasto talento
Cantou o nosso lugar
Compôs prosa e poesia,
Ensaio e dramaturgia,
Foi escritor exemplar.
No século dezenove
Foi que Alencar produziu
Seu trabalho é nota dez
Ou melhor, é nota mil
Filiou-se ao Romantismo,
Autor de raro lirismo
O maior deste Brasil.
Em matéria de beleza
A obra dele me fascina
Sua sensibilidade
É alta, singela, fina
Sua prosa indianista
Enche de prazer a vista
Emoção n’alma origina.
Iracema é seu romance
Verdadeira obra-prima
Quem o lê logo se encanta
Passa a ter-lhe forte estima
É um poema em prosa
De linguagem preciosa
Só lhe falta o metro e a rima.
Iracema, linda lenda
Das terras do Ceará
Explicação sobre a origem
Desse estado ela nos dá
É uma história de paixão
E do povo o coração
Para sempre habitará.
A história começa assim:
Um barquinho vai singrando
As águas verdes do mar
E dentro dele levando
Um destemido guerreiro,
Um menino e um rafeiro
Dos ventos sob o comando.
Bem distante, lá na praia,
Um eco agudo se ouvia
E o varão, ao escutá-lo,
Tristes lágrimas vertia
No horizonte o barco some
Mas de quem era esse nome
Que o tal eco repetia?
Esse nome é da pessoa
Cuja história o livro conta
É a história de Iracema
Que há muito tempo remonta
Todos devem conhecê-la
É só começar a lê-la
Que o interesse desponta.
II
Iracema era uma índia
Da nação dos tabajara
Virgem, moça e muito bela
De corpo e também de cara
Morava no interior
Pois da costa era senhor
O povo dos pitiguara.
Ela levava a existência
Sem que nada a preocupasse
Pelos campos e florestas
Tinha a índia livre passe
Era da selva a princesa,
Vivia com a natureza
O mais primoroso enlace.
Até que num dia infausto
Sua sorte foi mudada
Ela conheceu alguém
Que a deixou apaixonada
Esse alguém era Martim
Que veio para pôr fim
À vida dela, coitada!
Martim era um moço branco
Um militar português
Perdeu-se dos companheiros
Numa caçada que fez
Vagou na mata perdido
E em local desconhecido
Veio parar certa vez.
Tal terra era dominada
Pela tribo de Iracema
Por ser ele um estrangeiro
Isso não era problema
Ele tinha a proteção
De Tupã, deus da nação,
Só que havia um dilema.
Martim era um aliado
Dos índios do litoral
E entre aquelas duas tribos
A discórdia era fatal
Estavam sempre brigando
Mil batalhas disputando
Numa fúria sem igual.
E assim o branco chegou
Ao território inimigo
Iracema ele encontrou
Da sombra fresca ao abrigo
Ela se surpreendeu
Mas, tola, não percebeu
Que a rondava o perigo.
Por isso ela conduziu
O estrangeiro à sua aldeia
Lá foi ele recebido
Com bebida e farta ceia
Iracema, pasma, olhava…
O destino que a aguardava
Ela não fazia ideia!
Foi daí que teve início
O sofrer daquela pobre
Amou a quem não devia
Traiu o seu povo nobre
Porém o fim desse enredo
Irei manter em segredo
Quem ler o livro descobre!
Eu só posso adiantar
Que a obra é a alegoria
Da conquista desta terra
Pela lusa artilharia
Que dizimou o selvagem
E criou esta linhagem
De crime e patifaria…