“Mudam-se o tempo, o espaço e os instrumentos. Mas o professor não pode perder, no horizonte, as escolhas e concepções que embasam sua prática pedagógica.”
É possível imaginar que os profissionais de educação poderiam, facilmente, listar inúmeras dificuldades impostas pelo ensino remoto. Com a necessidade de distanciamento social, não se pode negar os prejuízos que o ensino remoto emergencial pode acarretar para o processo de ensino-aprendizagem. Apesar desse cenário, a opção por uma abordagem (sócio)construtivista de ensino, no que se refere às avaliações e ao feedback dos professores, poderá minimizar os prejuízos.
Na sala de aula, chama-se, comumente, de feedback o retorno que o docente dá aos estudantes sobre o desempenho deles nas atividades de ensino-aprendizagem. Assim, está relacionado, intrinsecamente, à qualidade das interações professor-aluno no ambiente escolar.
Nesse contexto, há o que se conhece como feedback tradicional, por meio do qual o professor apenas constata, registra para o aluno, aquilo que ele ainda não sabe. Há, ainda, uma abordagem de feedback construtivo por meio da qual o docente foca em reconhecer e valorizar o que o aluno já sabe para apoiá-lo em busca do que ele ainda não sabe.
Nessa segunda perspectiva, o docente percebe o “erro” sob uma ótica (sócio)construtivista, influenciado, principalmente, pelas ideias de Piaget e Vigotsky. Este cunhou o conceito de ZDP – Zona de Desenvolvimento Proximal -, pelo qual o professor atua, nessa região, como mediador, facilitando o desenvolvimento das potencialidades do educando. Aquele desenvolveu a teoria da Epistemologia Genética, que reivindica a importância dos processos mentais de assimilação e acomodação para a aprendizagem. Para ambos, os conhecimentos prévios do estudante devem ser reconhecidos e valorizados no feedback do professor.
Essas primeiras reflexões sobre formas mais eficientes de feedback escolar estão associadas à compreensão de avaliação na perspectiva (socio)construtivista, na qual o “erro” faz parte do processo de aprendizagem. Vários são os autores que tratam da avaliação com essa abordagem, inclusive, com nomes e especificidades diferentes, como a avaliação mediadora, de Jussara Hoffmann e a avaliação formativa, de Scriven, 1967.
A grosso modo, essas abordagens se opõem ao que se conhece como Avaliação Somativa ou Classificatória e têm em comum o fato de que consideram a aprendizagem como um processo. O “erro”, ou hipótese provisória, constituiria uma etapa importante na internalização de conhecimentos, atitudes e competências.
É fato que o ensino remoto altera as relações professor-aluno. O processo avaliativo também é afetado em cheio. Mudam-se o tempo, o espaço e os instrumentos. Mas o professor não pode perder, no horizonte, as escolhas e concepções que embasam sua prática pedagógica.
Em sintonia com esse pensamento, podemos citar a possibilidade de utilização de diversos instrumentos de avaliação como a criação de Mapas Conceituais, a elaboração de Resumos, a produção de Diário de Bordo, a utilização de Formulários Eletrônicos como Google Formulário e Microsoft Forms ou, ainda, de aplicativos de perguntas e respostas gamificadas, como o Quizziz e o Kahoot, entre outras opções. Porém, não é o instrumento que, por si só, definirá a abordagem. O uso desses instrumentos precisa estar associado aos objetivos da atividade e aos pressupostos de um “modo de fazer docente”.
Portanto, diante de tantas dificuldades e incertezas para o trabalho dos profissionais de educação, faz-se relevante a insistência em não perder de vista a abordagem que representa a identidade do educador, mesmo em outros espaços, com outros instrumentos e em outra lógica temporal. Atualmente, a perspectiva de feedback ancorada nas teorias (socio)construtivistas tem sido aceita como uma forma eficiente de comunicação na interação professor-aluno por “valorizar o que o aluno já sabe” e “apontar estratégias para facilitar o que ele ainda precisa aprender”.
Fonte: Texto autoral. Adaptado de reflexões acadêmicas produzidas em novembro de 2020.
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