Homenagem ao romance Iracema, de José de Alencar

I

Venho prestar homenagem

Ao grande Zé de Alencar

Que com seu vasto talento

Cantou o nosso lugar

Compôs prosa e poesia,

Ensaio e dramaturgia,

Foi escritor exemplar.

 

No século dezenove

Foi que Alencar produziu

Seu trabalho é nota dez

Ou melhor, é nota mil

Filiou-se ao Romantismo,

Autor de raro lirismo

O maior deste Brasil.

 

Em matéria de beleza

A obra dele me fascina

Sua sensibilidade

É alta, singela, fina

Sua prosa indianista

Enche de prazer a vista

Emoção n’alma origina.

 

Iracema é seu romance

Verdadeira obra-prima

Quem o lê logo se encanta

Passa a ter-lhe forte estima

É um poema em prosa

De linguagem preciosa

Só lhe falta o metro e a rima.

 

Iracema, linda lenda

Das terras do Ceará

Explicação sobre a origem

Desse estado ela nos dá

É uma história de paixão

E do povo o coração

Para sempre habitará.

 

A história começa assim:

Um barquinho vai singrando

As águas verdes do mar

E dentro dele levando

Um destemido guerreiro,

Um menino e um rafeiro

Dos ventos sob o comando.

 

Bem distante, lá na praia,

Um eco agudo se ouvia

E o varão, ao escutá-lo,

Tristes lágrimas vertia

No horizonte o barco some

Mas de quem era esse nome

Que o tal eco repetia?

 

Esse nome é da pessoa

Cuja história o livro conta

É a história de Iracema

Que há muito tempo remonta

Todos devem conhecê-la

É só começar a lê-la

Que o interesse desponta.

 

II

Iracema era uma índia

Da nação dos tabajara

Virgem, moça e muito bela

De corpo e também de cara

Morava no interior

Pois da costa era senhor

O povo dos pitiguara.

 

Ela levava a existência

Sem que nada a preocupasse

Pelos campos e florestas

Tinha a índia livre passe

Era da selva a princesa,

Vivia com a natureza

O mais primoroso enlace.

 

Até que num dia infausto

Sua sorte foi mudada

Ela conheceu alguém

Que a deixou apaixonada

Esse alguém era Martim

Que veio para pôr fim

À vida dela, coitada!

 

Martim era um moço branco

Um militar português

Perdeu-se dos companheiros

Numa caçada que fez

Vagou na mata perdido

E em local desconhecido

Veio parar certa vez.

 

Tal terra era dominada

Pela tribo de Iracema

Por ser ele um estrangeiro

Isso não era problema

Ele tinha a proteção

De Tupã, deus da nação,

Só que havia um dilema.

 

Martim era um aliado

Dos índios do litoral

E entre aquelas duas tribos

A discórdia era fatal

Estavam sempre brigando

Mil batalhas disputando

Numa fúria sem igual.

 

E assim o branco chegou

Ao território inimigo

Iracema ele encontrou

Da sombra fresca ao abrigo

Ela se surpreendeu

Mas, tola, não percebeu

Que a rondava o perigo.

 

Por isso ela conduziu

O estrangeiro à sua aldeia

Lá foi ele recebido

Com bebida e farta ceia

Iracema, pasma, olhava…

O destino que a aguardava

Ela não fazia ideia!

 

Foi daí que teve início

O sofrer daquela pobre

Amou a quem não devia

Traiu o seu povo nobre

Porém o fim desse enredo

Irei manter em segredo

Quem ler o livro descobre!

 

Eu só posso adiantar

Que a obra é a alegoria

Da conquista desta terra

Pela lusa artilharia

Que dizimou o selvagem

E criou esta linhagem

De crime e patifaria…

 

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