A opção por uma metodologia de ensino-aprendizagem para as atividades de ensino remoto emergencial não é algo simples, pois muitos fatores poderão influenciar essa decisão. Acessibilidade à internet e às ferramentas digitais, cultura da escola, formação (ou falta dela) para o trabalho com artefatos da web, disponibilidade de material didático impresso para os alunos e tantos outros fatores precisam ser ponderados.
É sempre bom lembrar que, independente das escolhas dos profissionais da educação, vão ocorrer prejuízos para a aprendizagem dos alunos, durante esse período. O ensino desenvolvido durante a pandemia não é Educação a Distância, não é, em sua maioria, Ensino Híbrido e também não é Ensino Presencial formal, como se tem concebido. É uma prática de ensino emergencial, não normal. A própria existência dessa forma de oferta já pressupõe uma precarização das condições do processo de ensino-aprendizagem. Assim, não existe uma didática pensada previamente para o ensino remoto emergencial.
Contudo, é importante registrar que essas dificuldades não constituem motivos suficientes para a interrupção da oferta. A maior pandemia dos últimos cem anos exige das instituições e de todos os cidadãos compreensão, colaboração, planejamento e ação, tendo em vista a finalidade de estabelecer um “novo normal”, na sociedade.
Com relação à educação formal, 87% das escolas do mundo estavam fechadas e 1,5 bilhão de alunos sem aulas presenciais, em maio de 2020, segundo a Organização das Nações Unidas – ONU. Neste cenário de combate à COVID-19, almeja-se a continuidade da prática educativa. Mas como? O sociólogo Boaventura de Souza Santos, no seu livro A Cruel Pedagogia do Vírus (2020), afirma que “tudo o que é sólido se desfaz no ar, com o vírus”.
Esse pensamento pode ser exemplificado, no campo da educação, com a diluição das certezas dos educadores sobre o que ensinar e, principalmente, como ensinar. Surgem, assim, inúmeras discussões sobre quais metodologias são mais adequadas para o momento. Para o educador português, formador de professores, António Nóvoa, as respostas dependem do lugar, do contexto. Durante o último ano letivo, muito já se amadureceu e as abordagens metodológicas baseadas em Ensino Híbrido e, principalmente, em “Sala de Aula Invertida – SAI” têm sido apresentadas como relevantes.
É importante considerar que, desde a segunda metade do Século XX, o planeta tem experimentado profundas mudanças no mundo do trabalho, a exemplo do que ocorre em outras áreas. Além disso, o cenário atual de pandemia acarretou a necessidade de distanciamento social e apressou ainda mais esse processo de “digitalização” e consolidação de novos hábitos no mundo digital. As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) têm sido alardeadas por muitos, erroneamente, como a solução para as transformações que a escola brasileira necessita tanto para o Ensino Remoto Emergencial, como para as práticas de Ensino Híbrido, no pós pandemia.
Mas, se as tecnologias, por se só, não garantem a inovação e a ressignificação almejada pela escola, tampouco, sem elas, esses movimentos serão viáveis. É bem verdade que as TDICs não são a solução, sozinhas, apenas são parte dela. O caminho para uma resposta à questão apresentada no título passa, necessariamente, pelas condições de acessibilidade às tecnologias digitais. Muitas metodologias ativas pensadas para práticas de Ensino Híbrido e com potencial para este momento histórico não pressupõem o emprego de ferramentas digitais. Nesse contexto, a já conhecida Pedagogia de Projetos pode ser uma opção viável e mais palpável à realidade de várias comunidades escolares.
